sábado, 11 de julho de 2015

FOLHA DE ILHA SOLTEIRA ENTREVISTA

Entrevista: Alexandre Nagado

Entrevista: Alexandre Nagado
Da redação
“Os quadrinhos são uma ferramenta de comunicação poderosa”
O paulistano Alexandre Nagado, 44 anos, mora em Ilha Solteira há quase 6 anos. É agente de vigilância da Unesp desde 2013 e ainda mantém uma atividade paralela como desenhista, redator e autor de quadrinhos, trabalhando com criação há mais de 25 anos. Já prestou serviços para empresas como Editora Abril, Santander Banespa, Votorantim, Bosch e muitas outras. Em Ilha, já desenhou para a ServTec, NEP Objetivo e Depto. Municipal de Cultura. É conhecido como estudioso de cultura pop japonesa, tendo publicado em livros, sites e revistas. Também mantém um blog sobre mangá, desenhos e seriados japoneses, o Sushi POP. Por conta de seu conhecimento, já participou de programas de TV, deu palestras pelo Brasil e já visitou o Japão em 2008 após ser escolhido em um programa de intercâmbio cultural patrocinado pelo Governo Japonês. 
Folha Cidade: Como começou seu interesse por desenho e especificamente por HQ? Veio desde a infância? 
Ale Nagado: Aprendi a ler aos 5 anos e desde lá nunca parei de ler gibis. E desenho desde os 2 anos. Fui muito incentivado por meus pais a ler e desenhar e agora incentivo minhas filhas.
Folha Cidade: Quais suas principais influências artísticas?
Ale Nagado: Quando garoto, eu queria fazer mangá, seguir o estilo japonês de quadrinhos, mas na época era ainda mais inviável do que hoje em termos de mercado nacional de produção. Daí, fui diversificando o traço, para poder pegar diferentes tipos de encomendas, pois o objetivo era viver de arte. Fiz trabalhos para jornais, agências de publicidade, editoras, empresas de eventos, departamentos de RH… Estudei no Núcleo de Arte, uma escola de artes gráficas por onde passaram grandes profissionais do mercado em São Paulo. Meu mestre Ismael dos Santos, que já está aposentado, foi minha maior influência. Através dele aprendi a incorporar diferentes estilos no trabalho e a pensar de forma dinâmica e comunicativa. Os quadrinhos são uma ferramenta de comunicação poderosa, que une texto e ilustrações de uma forma única, e entender isso foi fundamental para minha vida profissional.
Folha Cidade: Você prestou serviço para diversas empresas grandes, entre elas Editora Abril, Santander Banespa, Votorantim, Bosch. Como você avalia essas experiências? Elas ‘moldaram’ ou influenciaram seu processo de criação de alguma forma? 
Ale Nagado: Com empresas grandes, prazo é tão importante quanto qualidade. Geralmente, todo o processo burocrático é resolvido antes do artista ser chamado. E quando é chamado, o prazo quase sempre está estourando. Não dá tempo pra esperar a inspiração. Ser um bom artista é muito diferente do que ser um bom artista profissional, no sentido de que não há idealismo na arte comercial, tem que haver produção e com qualidade. O que fazemos é aplicar técnicas, dominar materiais, ter um processo criativo organizado e saber extrair do cliente o que ele precisa. O bom é que os valores acabam tendo um patamar mais justo, o nível é bem profissional e quando o cliente gosta, chama de novo. Tenho alguns clientes com um relacionamento de longa data e nunca furei um prazo de entrega.
Folha Cidade: Em seu blog, Sushi POP, você fala sobre mangá, desenhos e seriados japoneses. Como é a receptividade do público com esses conteúdos? As pessoas costumam interagir, fazer perguntas, sugestões..? É um público mais exigente? 
Ale Nagado: Os personagens japoneses fazem parte da vida dos brasileiros há muito tempo. Dá pra citar Speed Racer, Ultraman, Jaspion, Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Dragon Ball, Pokémon, One Piece, Naruto… São sucessos de diferentes gerações e há grandes eventos pelo país onde os fãs se encontram. Em meu blog, percebo que o público que me acompanha é um pouco mais velho, acima dos 20 ou 30 anos (ou mais) e por isso me permito divagar sobre aspectos conceituais, políticos, sociais e mercadológicos. Há uma boa interação e discussões legais já apareceram, mas como na internet em geral, só os mais engajados vão comentar e isso nem sempre reflete o universo de leitores comuns. No geral procuro dialogar também com o público jovem adulto não-iniciado.
Folha Cidade: Como foi seu intercâmbio no Japão? Quanto tempo durou? Alguma experiência inesquecível nesse período? 
Ale Nagado: A viagem foi parte das festividades do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, em 2008. Selecionaram 25 jovens até 35 anos de vários estados através de redação em inglês e entrevista pessoal em unidades do Consulado Geral do Japão. Eu já tinha 36 anos, quase 37, mas fui aceito do mesmo jeito. Foi apenas uma semana, mas absurdamente intensa, é difícil separar um momento. Conheci 4 cidades: Tokyo, Hiroshima, Kyoto e Oizumi e fiz muita coisa. Andei de trem-bala, visitei castelos, templos, assisti espetáculos, palestras, fui recepcionado no Ministério de Relações Estrangeiras do Japão, conheci muita gente interessante e vivi uma experiência espetacular. Tudo bancado pelo Governo Japonês. Contei sobre o dia-a-dia da viagem em meu blog. (Confira: http://tinyurl.com/japao2008)
Folha Cidade: Para você, a cultura pop japonesa tem ganhado mais espaço no Brasil?

Ale Nagado: Como disse, o Brasil sempre conviveu com personagens japoneses e isso acabou trazendo outros interesses. As músicas presentes nos desenhos animados e seriados têm fãs pelo país todo, a ponto de vários cantores japoneses já terem vindo fazer shows no Brasil. O cosplay (a arte de se fantasiar e interpretar um personagem) tem adeptos no país todo e o Brasil já venceu até campeonatos internacionais desse hobby. Há eventos que atraem milhares de pessoas e isso já independe da colônia japonesa. Hoje muitos títulos de mangá são traduzidos em português e há sites de streaming oficiais com muitas séries sendo exibidas com legendas em português. A tendência é esse público crescer e se diversificar. A diversidade, inclusive, é uma das marcas dos mangás e animês. Há títulos para todos os gostos, interesses, orientações e segmentos, basta procurar.
Folha Cidade: Sobre os trabalhos desenvolvidos em Ilha Solteira; tiveram alguma particularidade em relação aos anteriores?
Ale Nagado: Dos trabalhos feitos aqui, todos tiveram como característica uma agilidade grande na tomada de decisões. Aqui há menos burocracia e isso agiliza o trabalho. Há muito potencial a ser explorado na região, mas também há muita resistência e pouca valorização do que faço, mas isso vai mudar. E com a internet, tenho conseguido conciliar o home-office com meu trabalho fixo na UNESP, produzindo trabalhos para empresas de outras cidades e estados. São rotinas muito diferentes e certamente é desgastante trabalhar nos dias e horários que deveriam ser de descanso, mas escrever e desenhar fazem parte da minha vida e não pretendo parar.
Saiba mais:
Desenhos: www.nagado.wix.com/portfolio
Blog Sushi POP: www.nagado.blogspot.com.br
Twitter: @ale_nagado

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