A Cartomante e o acompanhante da cliente
A Cartomante tem
um dom, isso é inegável!
Capacidade de
prever o futuro ou sabedoria na forma de escutar as pessoas, tendo bom senso
nas sugestões de incentivo ou advertência sobre as escolhas de alguém com
dúvidas, não será nesse mundo que vamos descobrir.
No início
começou como uma brincadeira com as amigas. Porém, por alguma razão o que ela
falava acabava acontecendo.
A separação do
marido e a necessidade de criar dois filhos ainda pequenos levou a Cartomante a
fazer da sua brincadeira um ofício.
As primeiras
clientes foram amigas, depois as amigas das amigas e logo desconhecidos de
todas as idades, profissões, crenças e grau de instrução passaram a se
consultar com a Cartomante.
As sessões de
atendimento eram realizadas na cozinha da casa. Apesar da simplicidade, não
eram raros os dias em que a sala ficava cheia de clientes esperando por sua
vez.
Diversificados
também eram os questionamentos trazidos pelos clientes. Problemas no amor,
negócios, conflitos familiares, cada pessoa trazia uma história e angústias que
exigiam da Cartomante muito jogo de cintura.
Com o tempo e
a experiência, a Cartomante se mostrou capaz de lidar com qualquer situação,
mas mesmo assim o ser humano é sempre capaz de surpreender.
Em um dia de
menor movimento toca a campainha. Ao atender a porta a Cartomante se depara com
uma mulher de aproximadamente 30 anos, sozinha, que lhe dirigiu a palavra:
- Olá, boa
tarde! Sou a cliente das 15:00 horas. Fui indicada pela Luíza, posso entrar?
A Cartomante
anuiu, pediu que a cliente entrasse e quando foi fechar a porta ouviu:
- Ele pode
entrar também?
A Cartomante
estranhou a pergunta, voltou a olhar para a rua, não viu ninguém, mas mesmo sem
entender, concordou com o pedido.
A cliente
olhou para fora da casa e disse para uma rua vazia:
- Pode vir,
ela deixou você entrar.
Como se
tivesse uma pessoa ao lado, a cliente voltou a entrar na casa e aguardou
instruções.
Após ser
orientada a se dirigir para a cozinha, a cliente mais uma vez perguntou:
- Ele pode participar
da sessão?
Mais uma vez a
cartomante concordou, mas dessa vez tomou o cuidado de esperar a suposta pessoa
entrar na cozinha e apontar ao “casal” duas cadeiras para que se acomodassem.
Durante a
sessão, a cliente esclareceu que o marido havia falecido no ano anterior, mas,
como eram muito apegados, ele não saía do seu lado.
Nada de mais
estranho ocorreu e ao término da sessão a cliente falou:
- Muito
obrigado pela sua atenção. Você foi extremamente atenciosa. Quanto devo?
Foi nesse
momento que a Cartomante perguntou:
- Depende,
quem vai me pagar, você ou ele?
Depois de
alguns momentos em que parecia discutir com alguém, a cliente sorriu de forma
acanhada e respondeu:
- Sou eu. Ele
agora não paga mais nada! Pode uma coisa dessas?
Rafael Ferreira da
Silva[1]
[1] O autor
é casado e pai de uma adolescente, advogado em São Paulo e tem outros contos
para compartilhar.
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