domingo, 3 de maio de 2015

COMENTÁRIO DA ARBITRAGEM DE PALMEIRAS 1 X SANTOS 0



COMENTÁRIO DO RAFA
Rafael Ferreira da Silva, ex-juiz da Federação Paulista de Futebol fala sobre a arbitragem do primeiro jogo da decisão do Paulistão 2015, realizado no dia 26 de abril, na Arena Alianz, do Parque Antártica.
Palmeiras 1 x Santos 0 - Fundamentos dos pontos de vistahttps://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/profile_mask2.png







Olá pessoal,

Boa tarde!

Como alguns de vocês puderam observar, assim como faz no campo, no grupo de whatsapp Anderson fomentou polêmica sobre as decisões da arbitragem no primeiro jogo da final do campeonato paulista.

Não assisti a partida, mas como fui convidado a emitir minhas opiniões, busquei os lances citados na internet e adiantei minhas conclusões pelo whatsapp.

Contudo, para enriquecer o debate, divido os fundamentos das minhas opiniões e aproveito para acrescentar alguns outros pontos de vista sobre o que pude observar.

Ponto 1 - Gol do Palmeiras - Impedimento ou não impedimento

A regra 11, que trata sobre o impedimento, dentro do contexto do lance, dispõe que:

"Um jogador em posição de impedimento somente será sancionado se, no momento em que a bola for tocada ou jogada por um de seus companheiros, estiver, na opinião do árbitro, envolvido em jogo ativo:

- interferindo no jogo; ou
- interferindo em um adversário; ou
- ganhando vantagem por estar naquela posição"

Nas diretrizes para interpretação da regra, as definições dos conceitos acima expostos são seguintes:

"Interferindo no jogo significa jogar ou tocar a bola que foi passada ou tocada por um companheiro.

Interferindo num adversário significa impedir que um adversário jogue ou possa jogar a bola, obstruindo claramente o seu campo visual, ou disputando a bola com ele (adversário).

Ganhando vantagem por estar naquela posição significa jogar a bola:
(i) que rebate ou desvia de um poste, travessão ou em um adversário, depois de haver estado em uma posição de impedimento;
(ii) que rebate, desvia ou é jogada por um adversário que deliberadamente realiza uma defesa, depois de haver estado em uma posição de impedimento que recebe a bola de um adversário que deliberadamente joga a bola (exceto em uma defesa deliberada) não se considera haver ganhando vantagem desta posição."

Aplicável ao lance chamo atenção à partes grifadas no texto acima reproduzido e pergunto:

Ao abrir as pernas para a bola passar, o jogador do Palmeiras impediu que os santistas jogasse ou pudessem jogar a bola? Obstruiu o campo de visão dos adversários? Disputou a bola com esses adversários?

Pessoalmente, entendo que não, pois todos os santistas tinham clara visão de onde a bola iria, não havendo qualquer impedimento para continuarem jogando.

Supondo que a ação desse jogador tivesse atrapalhado a reação dos jogadores santistas, ainda assim, no texto da regra atual não há fundamento para que a jogada fosse paralisada.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração é que a definição de jogo ativo, dentro dos limites estabelecidos pela regra, comportada uma margem de subjetividade, ao ter inserido no texto a expressão, "na opinião do árbitro".

Portanto, o assistente número 2, Anderson José de Moraes Coelho, acertou em deixar o lance prosseguir.

De qualquer modo, como existe o elemento subjetivo na regra, se ele tivesse marcado, não poderia ser condenado. Porém, a melhor decisão foi a que tomou.

Ponto 2 - Dividida com o Rafael Marques - Penalti ou não?

A jogada é bastante simples e não merece maiores considerações.

O Rafael Marques tem a bola dominada diante de si, arma o chute, o jogador santista tenta interceptar o arremate, não chega na bola e parte do seu corpo acerta a perna de apoio do atacante palmeirense.

Penalti! É uma falta bastante comum em lances no meio campo e geralmente não marcadas.

A merda é que o Rafael Marques ao invés de agir naturalmente se joga de modo teatral para induzir a marcação do árbitro, o que muitas vezes depõe contra.

Nesse caso, infelizmente o árbitro errou.

Ponto 3 - Lance do penalti não convertido pelo Dudu e expulsão do defensor santista

Pelo que pude ver no globo esporte houve um lance similar no primeiro tempo, próximo à grande área, no campo de ataque santista, sobre o Ricardo Oliveira e o árbitro não marcou nada. Aliás, tentar deixar o jogo seguir é a característica do árbitro Vinicius Furlan.

Pois bem, no polêmico lance, bem antes de chegar na área, o atacante palmeirense e o defensor santista disputam a bola, um colocando o braço na frente do outro para impedir o progresso do adversário.

Nas diretrizes de interpretação da regra do jogo, está disposto que "o ato de segurar um adversário inclui o uso dos braços, das mãos ou do corpo para impedi-lo de se movimentar ou passar".

Ou seja, desde o começo da jogada estávamos diante de um caso de infração mútua, o que impõe a paralisação do jogo, aplicação de advertência, se o caso, e reinício com bola ao chão.

Algo que aprendemos na escola de árbitros é que nesses casos ou você para logo o jogo ou não marca nada.

A postura inicial do árbitro é que ele não iria marcar nada.

Porém, por conta da sinalização do assistente número 1, Carlos Nogueira Júnior, o árbitro decide por marcar o penalti.

A decisão tem amparo na diretriz da regra do jogo que diz o seguinte: "Se um defensor começar a segurar um atacante fora da área penal e continuar segurando dentro desta área, o árbitro deverá conceder um tiro penal".

Infelizmente a equipe de arbitragem errou pois:

1 - o ângulo não era favorável para o assistente determinar que somente o jogador santista estava segurando o palmeirense; e
2 - quem tinha que decidir era o árbitro central (que acabou cedendo à indicação do assistente que é muito mais experiente que ele, com outras finais no currículo).

Mas como a decisão havia sido tomada, o cartão vermelho ao defensor foi acertado, uma vez que impediu uma chance clara e manifesta de gol.

A merda foi dar o vermelho para o David Braz, o que demonstra que o árbitro havia perdido a concentração. Felizmente, o quarto árbitro estava atento e evitou que isso seguisse adiante.

Ponto 4 - Expulsão dos técnicos

Perfeito. Exceto se for para uma ação de cortesia ou educação, técnicos e outros integrantes da comissão não tem porque adentrar ao campo, ainda mais porque o túnel está na direção oposta à que eles tomaram.

Ponto 5 - A equipe de arbitragem

O uso de expressões como "ladrão", "mal intencionado", "vendido", "fraco", entre outras são completamente inadequadas para avaliar a conduta/trabalho de qualquer pessoa, ainda mais quando manifestada com um conhecimento limitado das circunstâncias.

Não por corporativismo, até porque deixei de ser árbitro em novembro de 2012, mas por uma questão de respeito ao ser humano, saio em defesa dos meus ex-colegas, assim como faria se alguém agisse da mesma maneira em relação a qualquer um do grupo.

O árbitro é um rapaz que está em ascensão na carreira, tendo conquistado seu espaço no campo de jogo, apitando aquilo que observa, independente se a favor ou contra o time da casa, grande/pequeno ou qualquer outro elemento que vocês possam eleger. Mereceu ter a chance de apitar essa final.

Os dois assistente são bem mais experientes, com inúmeros clássicos na carreira, e certamente foram escalados para dar suporte ao mais novo. Não há motivo de censura na escalação dos mesmos.

Concordo que algumas decisões tomadas na partida foram equivocadas e vocês têm todo direito de criticar o trabalho deles nessa partida.

Entretanto, por acaso, alguém aqui acompanha a carreira/desempenho de árbitro como fazem em relação aos times? Se acham que eles foram tão mal, desafio a dizerem qual seria um trio melhor para arbitrar a partida. Quem acha que algo está errado deve pelo menos sugerir o que seria o certo (aliás, algo que cabe por exemplo nas nossas montagens de time).

Entendam que provavelmente os erros que eles cometeram repercutirão negativamente na carreira deles e, com maior ou menor intensidade, suportarão as consequências ruins.

Agora colocar em xeque o caráter da pessoa ou tentar diminuir o que os caras fizeram para chegar até ali porque erraram é inadmissível.

Atacantes perdem gols incríveis, defensores cometem falhas grotescas e goleiros tomam frangos ridículos e o grau de cobrança de vocês não é proporcional ao como se manifestam com os árbitros, o que é ainda mais insensato se imaginar o quanto ganha um jogador e quanto ganha um árbitro, sem falar nas condições de preparação para o desempenho da função.

Se o Palmeiras não for campeão, antes de lembrarem do árbitro, tenham em mente que o Dudu perdeu um penalti e o verdão jogou parte do segundo tempo com um jogador a mais e não se aproveitou desse fator.

Do mesmo modo, se o Santos não for campeão, pelo que me consta não jogou bosta nenhuma nesse primeiro jogo e deve agradecer por não ter tido sorte pior.

Quem ainda assim entende que a competições são arranjadas e os árbitros são atores de suposto jogo de cartas marcadas talvez devesse refletir se acompanha futebol pelos motivos certos.

Portanto, por favor, vamos refletir um pouco antes de nos manifestarmos. Isso vale para todos, inclusive para mim, não apenas no âmbito do futebol, mas nas outras áreas da vida.

Um abraço,

Rafael

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